terça-feira, 9 de novembro de 2010

Caçadas de Pedrinho: invisibilidade e silenciamento das populações negras.


Prezadas e prezados,

Como todos têm acompanhado, o parecer do CNE a respeito da obra de Monteiro Lobato tomou proporções inacreditáveis. O parecer, que tem como objetivo uma ação pedagógica, foi transformado pela mídia em “veto” e “cassação”, medidas essas que não constam do texto do parecer.

O Senhor Ministro da Educação e um representante da ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS acabaram de falar no Jornal Nacional, referindo-se ao texto do parecer como veto e/ou cassação.  

Como se vê, está havendo, em todo o país, um grande movimento de intelectuais renomados e de uma grande massa crítica que questiona o parecer, alegando que o reconhecido racismo presente na obra (todos reconhecem que há racismo!!!)  está ligado à época em que a mesma foi produzida. Não discordamos disso. Sabemos também que a Literatura é reflexo de seu tempo, de sua sociedade e da mentalidade vigente e conhecemos todos os outros argumentos que podem ser erigidos em torno disso.

Sabemos, no entanto, o que é ser criança negra e não encontrar referenciais positivos na escola e no material utilizado por ela, como também não encontrá-los na mídia, nos filmes, nas HQs, nas novelas... Sabemos das feridas que nos foram causadas e que ainda marcam nossas crianças por estereotipias cruéis, “brincadeiras” perversas, apelidos infames.

Há teóricos dizendo que nunca ouviram uma criança negra reclamar de se sentir diminuída e/ou discriminada com as obras do Lobato! Gostaria que essas pessoas me dissessem com quantas crianças negras trabalharam e quais tipos de pesquisas sobre racismo eles conhecem, e por aí vai... Ressalte-se que não é a qualidade do texto de Lobato que se questiona... Ressalte-se que a orientação do parecer é que a questão racial mereça uma nota explicativa e contextualizadora na obra, como as questões ambientais mereceram.

Com tanta discussão sobre bullying, cuja conceituação universal engloba “um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), sem motivos evidentes, causando angústia e sofrimento, em uma relação desigual de poder” (conforme slides veiculados pelo CNE), por que a dor da criança negra ainda continua sendo diminuída, tonada invísível, calada? Há quem diga que o bullying só ocorre quando o ser atingido não possui condições de suportar. Como nós nunca tivemos outra alternativa, tivemos de suportar para sobreviver, não somos vítimas, então. Mais uma vez, somos “os capazes de suportar a dor”.

Há um discurso de que o CNE põe em xeque a competência de o professor trabalhar com questões raciais em sala de aula. Sabemos, no entanto, que a questão é muito mais séria e está ligada, para citar algumas circunstância, ao malfadado mito da democracia racial, ao fato de termos sido todos educados sob a perspectivas  eurocêntricas, por há apenas 7 anos as questões etnicorraciais fazem parte do currículo oficial, sem que a grande parte das escolas e dos professores sequer conheçam a Lei que alterou a LDB. Onde estão nossas pesquisas que provam isso? Prezados, desculpem-me o tom alarmista, mas, infelizmente, o momento é alarmante. 

Para resumir este texto, justificando-o: chegam textos de todo o país solicitando ao Ministro da Educação que rejeite o parecer. Sabe-se que já existem várias solicitações de audiência para discutirem o assunto. É necessário reagirmos! O importante e necessário é que nossas vozes, que têm sido caladas há tanto tempo,  cheguem lá! E cheguem rapidamente!   Somos muitos, das mais diversas áreas do conhecimento. Precisamos, dentro de nossas expertises, reagir. 

Por favor, enviem emails para 


Professor Antonio Ronca - presidente do CNE accronca@uol.com.br,
Professor Francisco Cordão - presidente da Câmara de Educação Básica: facordao@uol.com.br 


Roberto Borges
Coordenador do NEAB CEFET/RJ
Coordenador dos cursos de Pós-Graduação Lato Sensu do CEFET/RJ (DIPPG)
1º Tesoureiro da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros

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