sexta-feira, 2 de maio de 2008

O clube carnavalesco Pândegos d'África, segundo Manuel Querino

Na cidade de Lagos, no mês de janeiro, há uma diversão pomposa, em que se exibem indivíduos mascarados, diversão que designam pelo vocábulo - Damurixá - festa da rainha. Nesta, apenas tomam parte os indivíduos filiados ao clube que se encarrega da festa, não sendo facultativo a quem quisesse mascarar-se.

O soberano com os seus ministros participam daquele divertimento, recolhendo-se antes de terminar para, com as formalidades régias, agradecer.

Em 1897, fora aqui realizado o carnaval africano, com exibição do Clube Pandegos d'Africa, que levou a efeito a reprodução exata do que se observa em Lagos. O préstito fora assim organizado: na frente iam dois príncipes bem trajados; após estes, a guarda de honra, uniformizada em estilo mouro. Seguia-se o carro conduzindo o rei, ladeado por duas raparigas vírgens e duas estatuetas alegóricas. Logo depois via-se o adivinhador à frente da charanga, composta de todos os instrumentos usados pelo feiticismo; sendo que os tocadores, uniformizados à moda indígena, usavam grande avental sobre calção curto. O acompanhante era enorma; as africanas, principalmente, tomadas de verdadeiro entusiasmo, cantavam, dançavam e tocavam durante todo o trajeto, numa alegria indescritível.

Acerca desta festa o Jornal de Notícias de 15 de fevereiro de 1899 assim se externou: "Os clubes vistosamente se apresentaram recolhendo aplausos e saudações dos seus adeptos numerosos. Foram eles: A Embaixada Africana e os Pandegos de Africa, já apreciados de nosso público, porquanto desde uns três anos disputaram-se a palma nessas festas, cuja animação é de justiça dizer, muito lhes deve, pelo capricho com que as sustentam, ambos, ontem, percorreram lúcidos e bem dispostos um longo itinerário em que receberam, por vezes, ruidosas ovações, sendo grande o acompanhamento de povo que lhes dava guarda de honra.

"O estandarte da Embaixada era empunhado pelo rei Ptolomeu - Faraó sobre um grande elefante; e o dos Pandegos de Africa pelo rei - Lobossi à sombra de uma enorme concha, cada um deles tendo pajem aos lados e acompanhados de guarda de honra."

"Foram dois carros bonitos, bem preparados. O préstito dos Pândegos fechava com um carro representando a tenda de Pai-Ojôu; o da Embaixada, com uma crítica."

Fonte: Manuel Querino, Costumes africanos no Brasil, 1938, P. 103-104.


Manuel Querino foi diretor dos Pândegos d'África em 1900. Para mais informações, clique aqui

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