quarta-feira, 30 de abril de 2008

Declarações de coordenador do curso de Medicina provocam reações

A Tarde On Line*

Leia também:

>>Coordenador de Medicina atribui baixa nota ao QI dos alunos
>>Ufba terá curso de medicina fiscalizado pelo MEC

“É abominável o teor dos argumentos, lamentável. Não é possível que exista hoje no mundo alguém, com uma posição importante numa instituição de ensino, que defenda posições discriminatórias, reacionárias, como essas que o professor Natalino emitiu”, foi a reação de Naomar Almeida Filho, reitor da Universidade Federal Da Bahia (Ufba), às declarações de Antônio Natalino Dantas, chefe do colegiado da Faculdade de Medicina da Ufba.

Em reunião com José Tavares Neto, diretor da faculdade de Medicina, o reitor pediu o afastamento do professor do cargo de chefe do colegiado. “Não posso demiti-lo porque ele foi eleito pelos professores, mas nesse momento eu estou requerendo ao colegiado de Medicina seu afastamento do cargo”, diz.

Em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo" e à emissora de rádio "Band News FM", Dantas atribui ao “baixo QI dos baianos” a nota 2 obtida pelo curso no Enade. O professor culpou ainda o sistema de cotas para afro-descendentes pelo mau desempenho. “A prova foi feita com alunos do primeiro semestre e do último semestre. Pode estar havendo uma contaminação das cotas e influência da transformação curricular nesse resultado”, disse.

Reações às declarações do professor foram imediatas. Em nota oficial, o diretório acadêmico da Faculdade de Medicina da Ufba (Damed) declara que “as declarações feitas pelo Coordenador de curso Antônio Natalino Dantas embasam-se nas idéias de “contaminação” racial, determinismo genético e inferioridade dos povos, as quais legitimaram a escravidão e os campos de concentração nazistas. Além de racista, o professor se mostrou, mais uma vez, tecnicamente incapaz de exercer seu cargo”.

Os estudantes da faculdade planejam um ato público, às 8h da próxima segunda-feira, 5, em repúdio às declarações do professor e pedindo seu afastamento do cargo. “Não concordamos, em absoluto, com as declarações preconceituosas, que culpam os estudantes, ou pior, o baixo QI dos baianos pelo mau desempenho da faculdade“, declara o estudante do 5º semestre e membro do diretório acadêmico, Gabriel Schnitman, 20.

O diretor da faculdade acha que “foi uma declaração infeliz”, mas que o barulho em relação a ela está desviando o assunto do principal problema, “que é a situação em que a faculdade se encontra”. “O ensino é cada vez pior, e nós sabemos disso desde 2004, quando escrevemos um relatório pedindo providências à reitoria, incluindo a anulação do vestibular daquele ano. As providências foram nulas”.

Racismo - Dantas, que é baiano, citou que tal inferioridade de inteligência justificaria, entre outras coisas, o baixo desenvolvimento sócio-econômico do Estado, "apesar das grandes riquezas naturais", a popularidade do berimbau, "o típico instrumento de quem tem poucos neurônios", e a música de grupos tradicionais, como o Olodum, que ele qualificou como "barulho".

A reação às declarações do professor aconteceram também no Senado. O assunto dominou as discussões na casa na tarde desta quarta-feira. O senador César Borges (DEM - BA) pediu a aprovação de um voto de censura, assinada por senadores do PT, DEM, PMDB e PSDB, além do presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN). A Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC), ligada ao Ministério Público Federal na Bahia (MPF/BA), declarou que vai apurar as declarações de Natalino.

A ação administrativa do MPF vai investigar a suposta discriminação "racial ou de procedência" do coordenador. O procedimento foi instaurado pelo procurador Vladimir Aras, da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC), ligada ao MPF. Ele também solicitou oficialmente informações da Reitoria da universidade sobre as providências que adotará em relação às declarações. "Como professor e coordenador do curso da UFBA, Dantas possui uma função pública e está sujeito à lei de improbidade administrativa na hipótese de dano moral

*Com informações de Danilo Fraga, do A TARDE, e Agência Estado

Endereço da matéria:http://www.atarde.com.br/cidades/noticia.jsf?id=875295

Ainda sobre o berimbau

- Tocar berimbau é muito difícil. Na Bahia, tem pouca gente que sabe tocar direito. É tão difícil que muita gente não consegue sequer segurar alguns minutos o berimbau porque fica com os dedos doloridos, diz o mestre Vermelho – José Carlos Andrade Bitencourt, 39 anos, dos quais 22 dedicados à capoeira, funcionário da Petrobrás e atual dono da academia de Bimba.

CAPOEIRA: A VITROLA TOMOU O LUGAR DO BERIMBAU. E NÃO HÁ MAIS VALENTIA, SÓ EXIBIÇÃO.

Será que o professor já tentou tocar berimbau?

Professor atribui baixa nota do Enade ao "QI dos baianos"

O professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Antonio Natalino Manta Dantas, atribui ao "baixo QI dos baianos" a nota 2 obtida pelo curso no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) e no Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado (IDD). O reitor da universidade convocou o diretor da Faculdade de Medicina para uma reunião e deverá se manifestar hoje à tarde.

» Tom Zé: QI baiano não gera fracasso acadêmico
» MEC vai supervisionar 17 cursos de Medicina
» Fórum: opine sobre as declarações do professor

"Há uma inferioridade dos alunos baianos em relação aos outros. A prova foi uma mostra disso", disse Dantas, em entrevista à rádio Band News. Para o professor, "o baiano é uma pessoa igual a qualquer outra, mas talvez tenha déficit em relação a outras populações. Não temos aquele desenvolvimento que poderíamos ter. Se comparados com os estados do Sul, vemos que a imigração japonesa, italiana e alemã foram excelentes para o país. Aqui ficamos estagnados". Dantas é baiano e formando na própria UFBA na década de 60.

O professor disse ainda que o sistema de cotas para afro-descendentes pode ter contribuído para o mau desempenho. "A prova foi feita com alunos do primeiro semestre e do último semestre. Pode estar havendo uma contaminação das cotas e influência da transformação curricular nesse resultado".

Ainda na entrevista, Dantas afirmou que a tradicional percussão do Olodum é um "barulho" e que um dos símbolos da Bahia, o berimbau, é um instrumento para pessoas pouco inteligentes. "O berimbau é o tipo de instrumento para o indivíduo que tem poucos neurônios. Ele tem uma corda só e não precisa de muitas combinações musicais", disse.

Procurado pela rádio, o reitor da UFBA, Naomar de Almeida Filho, classificou as declarações de Dantas como "racistas e ignorantes". O reitor convocou o diretor da Faculdade de Medicina, José Tavares Carneiro Neto, para uma reunião de emergência na qual deverá pedir providências em relação à postura de Dantas. O reitor, que é favorável às cotas, deve se manifestar à tarde.

O curso de medicina da UFBA será supervisionado pelo MEC, junto com outras 16 instituições que obtiveram notas baixas nas avaliações federais. A faculdade de Medicina da UFBA foi a primeira instalada no País e completou 200 anos recentemente. Entre os formados pela instituição está o falecido senador Antônio Carlos Magalhães.

Curso de Formação Introdução ao Pensamento de Clovis Moura


"Das Rebeliões nas Senzalas à República de Palmares – Uma introdução ao pensamento de Clóvis Moura (1925-2003)". O Instituto Manuel Querino (IMAQ), apresenta este curso de introdução ao pensamento Clóvis Moura (1925-2003), historiador, sociólogo, pensador e militante da consciência negra.
PALESTRISTA: Fábio Nogueira – bacharel em Ciências Sociais (USP) e mestrando em Sociologia e Direito (Universidade Federal Fluminense – UFF).
PÚBLICO ALVO: Lideranças de bairros, movimento negro, movimento de mulheres, movimento de moradia, quilombolas, juventude, estudantes, educadores e militantes em geral. 10 de maio de 2008 das 13h às 19h (incluso apostila e certificado)

INSCRIÇÕES
Pelo telefone: (71) 8143-6894
Pelo correio eletrônico: imaquerino@gmail.com
Taxa de Colaboração R$ 20,00
Local: SINTEL Rua Bela Vista do Cabral, n. 247, Nazaré - Salvador - BA
Realização: Instituto Manoel Quirino Circulo Palmarino – Ba
Contatos: Iacy Maia - iacymaia@yahoo.com.br
Caroline Lima – carolinea.lima@yahoo.com.br
Alessandro Silva – historianaveia@yahoo.com.br

terça-feira, 29 de abril de 2008

Severino Vieira

Agradecemos ao Prof. Jaime Nascimento a indicação de Severino Vieira para o rol de políticos afrodescendentes da Bahia.


Severino dos Santos Vieira (Ribeira do Conde, 8 de junho de 1849Salvador, 23 de setembro de 1917) foi um político brasileiro. Foi senador da República e presidente do estado da Bahia.

Política

Exerceu a magistratura na terra natal, antes de se consagrar à política.

Inicialmente ligado ao grupo de Luiz Vianna, como ele oriundo do Partido Conservador do Império, por disputas internas do grupo, durante a República dele torna-se adversário, junto ao Barão de Jeremoabo, razão pela qual pautou sua administração por desfazer muitas das obras realizadas por seus predecessores, Vianna e Rodrigues Lima. Sua administração foi marcada pela construção do Porto de Salvador e graves crises financeira e com o judiciário e o comércio.

Foi Ministro da Viação, durante a administração do Presidente Campos Sales.


Origem: Wikipedia

segunda-feira, 28 de abril de 2008

A raça africana e os seus costumes na Bahia - apresentação

Seminário no IGHB e IAT

O "Seminário Manuel Querino: Vida e Obra", promovido pelo Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) e organizado pelo Prof. Jaime Nascimento, busca marcar de forma significativa a passagem dos 157 anos de nascimento e 85 anos da morte de Manuel Raimundo Querino. Escritor, jornalista, historiador, professor do Liceu de Artes e Ofícios e do Colégio dos Órfãos de São Joaquim, antropólogo autodidata, e um dos mais importantes pesquisadores da História da Bahia, Querino foi precursor dos estudos da contribuição africana para a formação da sociedade brasileira. No seminário, discutir-se-á essa personalidade ímpar e multifacetada, ressaltando a sua importância no cenário intelectual da Bahia e do Brasil.

O seminário será realizado entre os dias 28 de julho e 01 de agosto, com palestras apresentadas no Auditório do IGHB e na Sala de Teleconferência do Instituto Anísio Teixeira.

Segue a relação de palestrantes confirmados:
Profa. Dra. Maria das Graças Leal
Profa. Dra. Consuelo Novais Sampaio
Profa. Ms. Sabrina Gledhill
Profa. Myriam Fraga
Profa. Ms.Cristiane Vasconcelos
Prof. Dr. Antonio Sérgio Alfredo Guimarães
Profa. Ms. Eliane Nunes
Prof. Dr. Luiz Alberto Ribeiro Freire
Profa. Dra. Vanda Machado
Proa. Dra.Marli Geralda Teixeira
Prof. Dr.Vilson Caetano Júnior
Prof. Ms.Gildeci de Oliveira Leite
(atualizado em 16.05.08)

domingo, 20 de abril de 2008

Pândegos da África

"Já em Salvador as grandes atrações do Carnaval das últimas
décadas do século XIX foram os clubes negros, especialmente os Pândegos da África e a Embaixada Africana. Os desfiles desses clubes, embora seguissem o modelo das grandes sociedades carnavalescas — com carros alegóricos, fantasias e adereços —, em
muito lhes eram distintos.
"Na interpretação dos jornalistas os Pândegos da África promoviam
nas ruas um verdadeiro candomblé. Tematizando a África,
o clube desfilava com carros alegóricos que conduziam foliões
vestidos de reis, ministros e feiticeiros africanos. A multidão negra
tomava as ruas, cantando canções em língua iorubá ao som de
atabaques, os mesmos tambores usados nos cultos afro-brasileiros.
"Manoel Querino, professor, escritor e abolicionista negro, foi
membro da sua diretoria em 1900. Para ele, o desfile desse clube
era a reprodução de festejos que ainda aconteciam na África. Não
nos cabe aqui avaliar a veracidade da informação desse folião tão
ilustre, mais importante é assinalar a predisposição do clube em
reafirmar os vínculos culturais entre a Bahia e a África, apesar da
divulgação das teorias racistas que colocavam o continente africano
como o último na escala da evolução".

Fonte: Uma História do Negro no Brasil, Wlamyra R. de Albuquerque,
Walter Fraga Filho. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais;
Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006. P. 232.

CEAO - livros e vídeos para download

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DOWNLOAD DE LIVROS
LITERATURA AFRO BRASILEIRA
Florentina Souza e Maria Nazaré Lima (orgs.)

DE OLHO NA CULTURA: PONTOS DE VISTA AFRO-BRASILEIROS
Andréa Lisboa de Souza
Ana Lucia Silva Sousa
Heloisa Pires Lima
Marcia Silva

UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL
Wlamyra R. de Albuquerque
Walter Fraga Filho

DOWNLOAD DE VÍDEOS

Até onde vai seu preconceito?

El Pasajero Negro

Na Rua

Preconceito

Projeto " Diálogos contra o racismo - 1 "

Projeto " Diálogos contra o racismo - 2 "

Projeto " Diálogos contra o racismo - 3 "

Projeto " Diálogos contra o racismo - 4 "

Projeto " Diálogos contra o racismo - 5 "

Racismo

Racismo2


E. Bradford Burns (1933-1995)

Outra ex-aluna do Prof. E. Bradford Burns, Dra. Rosa María Pegueros, enviou esta foto do saudoso "querinólogo", autor de - entre muitos outros títulos - um "ensaio bibliográfico" titulado "MANUEL QUERINO'S INTERPRETATION OF THE AFRICAN CONTRIBUTION TO BRAZIL", In The Journal of Negro History, Vol. 59, No. 1 (Jan., 1974), P. 78-86

Os homens de cor preta na Historia

Em 1923, a Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (no. 48, P. 353-363) publicou um artigo da autoria de Prof. Manoel Querino, titulado "Os homens de côr preta na Historia", no qual o autor fornece dados biográficos (em muitos casos, escassos, com apenas 3 linhas) de 38 afrodescendentes: médicos, militares, religiosos, revolucionários, bacharéis, músicos e educadores, além de um engenheiro (Emigdio Augusto de Mattos). Também cita os nomes de vários outros militares (tenentes e alferes) e educadores. Embora a maioria não tenha datas, quase todos são do século XIX.

Segue uma transcrição da primeira "mini-biografia" - a mais extensa - de Dr. Caetano Lopes de Moura (com português atualizado):

Contava dezoito anos de idade, quando se achou envolvido no movimento sedicioso de 1798. Era, então, professor de latim e conhecedor de outras disciplinas.
Por fugir à devassa que fora logo aberta, emigrou para o estrangeiro e conseguiu diplomar-se em medicina na Universidade de Coimbra. Entrando para o Corpo de Saúde do Exercito, militou na guerra da Península, como cirurgião-mor de Legião Portuguesa. Depois dirigiu-se à França, que lhe oferecia mais vasto campo às suas cogitações literárias e científicas, aí fixou residência e, finalmente, doutorou-se em medicina. Assim aparelhado para maiores empreendimentos, consagrou-se à clínica e dedicou os momentos de descanso ao estudo e aos trabalhos de gabinete. Nesse afã, compôs e traduziu do francês, do inglês e do alemão obras de valor, sobre história, ciência e literatura. Serviu na Armada francesa e fora médico particular de Napoleão Bonaparte, de quem escreveu importante biografia. Gozou de grande reputação como homem de letras.
O ilustre helenista Odorico Mendes disse a seu respeito: "O nosso ilustre compatriota é riquíssimo na linguagem". Velho, alquebrado e sem recursos, fora amparado pela munificência de D. Pedro II, que lhe concedeu modesta pensão que lhe proporcionou existência menos atribulada. Foi um baiano que honrou à terra natal, principalmente, no estrangeiro, onde se impôs à admiração dos espíritos mais eminentes do Velho Mundo, pelos seus conhecimentos literários e profunda ilustração. Essa circunstância ainda mais realçava o seu valor intelectual por quanto se tratava de um homem de cor, originário de um país ainda hoje mal julgado por povos que se dizem propugnadores do progresso, da ciência da arte e da literatura.
(Também fornece uma relação de 36 "trabalhos que deu à estampa, em original ou em versão").

Um artigo publicado em PDF na Internet, da autoria de Cláudio Veiga, questiona a cor do médico, escritor e tradutor, alegando que era "mulato" e não "negro". Quem sabe, estava tentando abrir a "escotilha de fuga" para mais um eminente homem de cor preta? (Segundo os critérios brasileiros, vários líderes negros norte-americanos, inclusive Booker T. Washington, seriam "mulatos".)

sábado, 19 de abril de 2008

"Ariano" ou mulato?

Raimundo Nina Rodrigues

Thomas Skidmore determinou - Nina Rodrigues era mulato. E Edward Telles citou e repetiu. Será que, com mil repetições, tornar-se-á verdade? Tem alguns que juram que Nina era 100% branco, ou "ariano", mas Nilo Argolo, personagem do romance Tenda dos Milagres e arquiinimigo de Pedro Archanjo, lutou para esconder o "esqueleto no seu armário" - sua ancestralidade africana. Pode ser que Skidmore tinha fontes fidedignas para fundamentar sua asseveração - e sabemos que as imagens, como o retrato acima, podem ser "branqueadas" - mas será que Jorge Amado foi o Exú desta história e transformou o grande defensor da eugenia, do branqueamento e da "raça ariana" num mulato?

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Morre Aimé Césaire, pai da Négritude

Para visualizar outra foto de Aimé Césaire, clique aqui

O poeta e militante Aimé Césaire faleceu hoje na ilha de Martinica, aos 94 anos. Quando solicitado a explicar o significado da palavra "Négritude", respondia que "é a afirmação de alguem que é negro e tem orgulho de sê-lo".

Leia "A Negritude de Aimé Césaire" (em PDF)

Para mais informações sobre Aimé Césaire, clique aqui
 

sábado, 12 de abril de 2008

Tanto preto quanto branco

Revista Espaço Acadêmico – Nº 27– Agosto de 2003 – Mensal – ISSN 1519.6186
http://www.espacoacademico.com.br/027/27rpraxedes.htm


Cor e segregação no Brasil

Rosângela Rosa Praxedes

Para discutirmos sobre quem são os brasileiros excluídos racialmente, podemos recorrer a um importante estudo sobre as relações raciais, de autoria do professor Oracy Nogueira, que apresenta como contribuição fundamental a definição de critérios classificatórios baseados em conceitos elaborados a partir da diferenciação das formas de discriminação racial, tendo como referencial as manifestações de preconceito e de discriminação existentes no Brasil e nos Estados Unidos em relação aos indivíduos considerados negros.

Para o professor Oracy Nogueira, as duas sociedades “...constituem exemplos de dois tipos de “situações raciais”: um em que o preconceito racial é manifesto e insofismável e outro em que o próprio reconhecimento do preconceito tem dado margem a uma controvérsia difícil de superar.” (Nogueira, 1979: 77)

O estudo de Oracy Nogueira foi elaborado para apresentação no XXXI Congresso Internacional de Americanistas, ocorrido em São Paulo entre os dias 23 e 30 de agosto de 1954. Após várias versões, o estudo foi publicado como livro em 1979, com o título Tanto preto quanto branco – estudos de relações raciais.

Ao elaborar o seu estudo, o autor diferencia em duas modalidades os pressupostos valorativos que orientam as atitudes discriminatórias, como podemos observar a seguir:

“Considera-se como preconceito racial uma disposição (ou atitude) desfavorável, culturalmente condicionada, em relação aos membros de uma população, aos quais se têm como estigmatizados, seja devido à aparência, seja devido a toda ou parte da ascendência étnica que se lhes atribui ou reconhece. Quando o preconceito de raça se exerce em relação à aparência, isto é, quando toma por pretexto para as suas manifestações, os traços físicos do indivíduo, a fisionomia, os gestos, os sotaques, diz-se que é de marca; quando basta a suposição de que o indivíduo descende de certo grupo étnico, para que sofra as conseqüências do preconceito, diz-se que é de origem.” (Nogueira, 1979: 79).

No uso de tal caracterização Nogueira chega à conclusão que o preconceito e as atitudes discriminatórias, nas formas em que se apresentam no Brasil, podem ser tipificados como sendo um “preconceito de marca”, em contraposição às situações correlatas que ocorrem nos Estados Unidos às quais o estudioso reserva a designação de “preconceito de origem”. (Nogueira, 1979: 78).

***

A preocupação em demarcar linhas de origem étnica e ou racial no Brasil tem variado de acordo com as necessidades políticas, sociais e econômicas dos grupos que disputam a hegemonia na sociedade brasileira. Decorre disso que a identificação da origem e da cor da população não aparece em vários recenseamentos realizados ao longo da nossa História.

A partir do final do Século XIX, em decorrência dos processos abolicionista e de proclamação da República, passa a ocorrer entre as elites dominantes em nosso país a necessidade de formulação de uma identidade nacional. O projeto de construção de uma nação, portanto, torna necessária a discussão das questões relativas à cor e à raça dos brasileiros, como já aparecem nos censos de 1872 e de 1890, por exemplo.

Um século depois, no censo de 1970, estes itens foram excluídos pelas autoridades. Época auge do Regime Militar, na década de 1970 manifesta-se a preocupação das instâncias de poder em afirmar a inexistência de racismo em nosso país, como já foi mais do que demonstrado pela vasta bibliografia a respeito do chamado “mito da democracia racial” no Brasil.

Durante o intervalo de tempo que vai da Abolição ao período de ditadura militar pós-1964, os aspectos ligados a cor e raça foram estrategicamente suprimidos ou não, de acordo ou com as políticas governamentais vigentes.

As discussões atuais sobre a implementação de ações afirmativas revigoraram a controvérsia sobre cor e classificação racial dos brasileiros. A proposta de cotas para estudantes negros em universidades públicas trouxe de volta a discussão sobre a delimitação de raça, origem e identificação étnica, ou seja, colocou em pauta as seguintes questões: Como determinar quem são os herdeiros da segregação racial conseqüente da escravidão e do racismo contra negros em nosso país? Como determinar quem é negro ou quem é afro-descendente em um país miscigenado e em que a própria população se auto-define através de quase duzentas cores, como demonstra o resultado de uma pesquisa realizada pelo IBGE e divulgada em 2000?

As delimitações identitárias são flexíveis e flutuantes no decorrer de contextos históricos sociais. Em vários segmentos da sociedade, tanto nos chamados “novos movimentos sociais” quanto nos setores governamentais, busca-se uma definição mais precisa na identificação dos afro-descendentes brasileiros, com o objetivo de implementar políticas públicas de inclusão social, pois vivemos em um momento de reivindicações organizadas e de busca de alternativas que levem a diminuir as desigualdades sociais, inclusive as geradas pelo racismo.

Neste contexto de incertezas e de busca de definição de uma identidade negra, podemos recorrer novamente a contribuição de Oracy Nogueira, que indica que o preconceito de marca é predominante em nosso país, onde as nuanças cromáticas da pele podem contribuir para um futuro mais ou menos promissor nos moldes de um sistema sócio-econômico competitivo e excludente. Embora, “a concepção de branco e não-branco, varie, no Brasil, em função do grau de mestiçagem, de indivíduo para indivíduo, de classe para classe, de região para região” (Nogueira, 1979: 80), o clássico anúncio do requisito de “boa aparência” nos classificados de emprego, esconde o objetivo maior: a rejeição aos negros, definidos de acordo com a tonalidade de sua cor, textura de cabelo. Quanto mais distante do padrão branco europeu de aparência, menores são as oportunidades no sistema educacional e no mercado de trabalho como também indicam inúmeras pesquisas sociais a esse respeito.

Considerando-se as definições de preconceito de marca e de preconceito de origem, segundo Nogueira, “...onde o preconceito é de marca, a probabilidade de ascensão social está na razão inversa da intensidade das marcas de que o indivíduo é portador, ficando o preconceito de raça disfarçado sob o de classe, com o qual tende a coincidir...” (Nogueira, 1976: 90)

Para finalizar, se em nossa sociedade o preconceito e a exclusão racial estão mais ligados à aparência do que à origem biológica e ou étnica, podemos utilizar como referência nas práticas de políticas afirmativas para afro-descendentes o conceito de “preconceito de marca” cruzando-o ao de classe social. Afinal quando se é mais escuro e mais pobre, sabe-se que a tendência é a de ser mais e mais excluído do modelo socio-econômico estabelecido. Esta idéia pode parecer simplista, porém, nós negros sabemos exatamente como as diferenças cromáticas da nossa pele influenciam em uma maior ou menor aceitação social. Afinal mudança de classe social é até possível, mas a cor da pele, felizmente não é.

Referências

MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil. Petrópolis, Vozes, 1999.

NOGUEIRA, Oracy. Tanto preto quanto branco: estudos de relações raciais. São Paulo, T. A . Queiroz, 1979.

SCHWARTZMAN, Simon. “Fora de foco: diversidade e identidades étnicas no Brasil”. In: Novos Estudos - nº55. São Paulo, CEBRAP, novembro de 1999.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Balanço de Brasa IX

Entre os dias 27 e 29 de março, participei do IX congresso da Associação de Estudos Brasileiros (Brasa IX) na Universidade de Tulane, em Nova Orleans, onde fiz uma apresentação sobre Manuel Querino: a seção biográfica do artigo "Manuel Querino: Um Pioneiro e Seu Tempo". Foi uma experiência muito proveitosa e, melhor ainda, me deixou mais convicta do que nunca da relevância e significância de Manuel Querino para os dias de hoje. No decorrer do congresso, vários painéis destacaram a necessidade de fornecer e produzir imagens positivas do negro no Brasil, desde os tempos da escravidão até hoje. Foi justamente o que Querino lutou para fazer durante a última fase de sua militância (seguindo as fases de republicano, abolicionista, líder operário e político) - a luta de um "imprescindível" do poema de Bertolt Brecht.*

A platéia foi pequena para o painel do qual participei, mas a resposta foi muito encorajadora. Focou evidente que a obra de Querino é interessante para pesquisadores de várias áreas, da história da arte à etnografia. Uma das perguntas que surgiram depois da apresentação merece mais reflexão: porque Querino foi "esquecido" e "excluído" da história oficial das pesquisas afro-brasileiras no Brasil, inclusive por Gilberto Freyre?

A resposta mais simples seria que foi vítima do silêncio e do desprezo por causa de sua cor. Mas a resposta é mais complexa: tomamos como nossas as palavras de Frederico Edelweiss: “Quantas vezes (Manuel Querino) deve ter ouvido a frase feita e ainda corriqueira: ‘este negro não se enxerga!’ As reivindicações a favor dos irmãos de raça haviam de trazer-lhe simpatia e desafetos; mais desafetos...” Em outras palavras, é mais um exemplo da "escotilha de fuga do mulato", que se transforma numa verdadeira armadilha.



*Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis
-- Bertolt Brecht