segunda-feira, 10 de março de 2008

Intolerância Religiosa em Minas - Lembrando o Século XIX

Mais um ato de intolerância religiosa em BH/MG

No dia 14 de fevereiro por volta das 9:00hs. à r. "D", 33 bairro Bernardo Monteiro, município de Contagem, chegaram 2 indivíduos à paisana em nosso templo sagrado. Se dizendo policiais, e empunhando um revólver cada um, adentraram o recinto alegando que estavam na captura de dois ladrões que assaltaram o supermercado SUPERBOX.

Vasculharam toda a casa chegando até à "Camarinha" (local sagrado de reclusão durante o período de iniciação, cuja entrada só é permitida aos iniciados no culto de Candomblé). Sob protesto do Babalorixa Wagner de Oxum, os mesmos invadiram a Camarinha, onde se encontravam quatro pessoas "recolhidas," citadas a seguir: Alef Henrique Borges (12 anos), Maximiliano Soares Silva (28 anos), Nelson Wagner Borges
Soares(23 anos), Maria Moreira da Silva( 53 anos). Em seguida, um dos policiais indagou sobre um menor que estava ali recolhido,e apontando o dedo perguntou o nome e a idade de cada um.

Outros questionamentos aconteceram, inclusive um muito desrespeitoso, que foi se ali estava acontecendo algum tipo de relação sexual. Neste momento um dos policiais dizendo ser o sargento Wagner exclamou a seguinte frase: "Viemos procurar uma coisa e encontramos outra!" Indagou também se o menor Alef tinha a autorização dos pais para estar ali, ao que o Babalorixa wagner prontamente respondeu que sim.

Após estes acontecimentos, se retiraram, e mais tarde, por volta das 17:30 hs, retornaram acompanhado de dois policiais militares, devidamente fardados e em viatura apropriada da PM, portando um documento, o qual dizia ser um mandado da vara de Infância e da Juventude, expedido pelo Juiz Dr. Paulo Rogério de Souza Abrante. Na mão do sargento Wagner, se encontrava uma arma e na mão do seu parceiro uma filmadora ligada, que também sob o protesto de todos os religiosos ali presentes, executou a filmagem de forma autoritária e abusiva.

Em seguida, conduziram o menor, a sua mãe e sua tia para a viatura policial, e daí levaram todos à presença do Juiz. Vale dizer que a condução do menor na viatura policial também aconteceu sob protesto do Babalorixa Wagner, uma vez que o menor se encontrava no período de iniciação, e portanto a viatura era inapropriada para aquela ocasião, e sendo assim, lhe foi oferecido outra alternativa de transporte, a qual não foi aceita pelos policiais.

Chegando na presença do Juiz, a primeira indagação do mesmo foi se o menor estava sendo forçado ou coagido a passar pelo processo iniciático, e Alef respondeu que estava alí de livre e espontânea vontade, e mais que isso, com apoio de toda família.

O juiz indagou ainda sobre a pratica ocorrida no ritual, enfatizando "o banho de sangue", ao que o Alef respondeu que o banho não era de "sangue", e sim de ervas apropriadas.

Em seguida chamou a mãe do menor em particular, e disse à mesma que a religião é escolha de cada um, como reza a constituição brasileira, contanto que o menor não faltasse às aulas. Encerrado mais este episódio, os acusados retornaram ao terreiro de candomblé, de táxi!

Salientamos ainda, que a TV Record esteve presente no terreiro de Candomblé também no mesmo dia, através de um repórter, que de acordo com o mesmo foi convocado pela PM para obter a versão do mesmo fato através das vitimas. A este repórter foi somente reservada a filmagem da área externa do terreiro de Candomblé, não sendo permitida a sua entrada.

No dia seguinte para a surpresa e indignação de todos, a TV Record exibiu em seu programa "Balanço geral", através do repórter Carlos Viana, imagens filmadas pelo policial citado no inicio deste relatório, em cuja matéria falava-se em cárcere privado, culto de magia negra, ritual macabro e sacrifício humano. Vale lembrar que as imagens exibidas se referiam ao interior do recinto.

Uma outra matéria sobre este fato também foi exibida pela radio Itatiaia na mesma data.

O Monabantu/MG está tomando as devidas providencias contra este fato, mais um ato de desrespeito aos religiosos de matriz africana.


Tania Cristina
-Estilista-afro/Mestra em Indumentária Africana
-Educadora Social./Artesã
-Fórum Agenda 21 do Estado de Minas Gerais Grupo GTT-03
-Monabantu/MG -Coordenação Executiva Estadual e Comunicação

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