terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Igreja do Rosário - lugar de sepultamento de vários heróis


O cemitério do Rosário - que ficava onde hoje é o corredor do lado direito da igreja - é um dos principais pontos de ligação dos irmãos com seus antepassados. Quem passa pela frente da igreja que já virou cartão-postal e pensa que essa ligação ficou apenas na memória está enganado. É que nem todos que cruzam os grandes portões do Rosário conhecem todos os seus mistérios. Em 1987, os restos mortais dos negros enterrados na igreja foram transferidos para um ossuário, nos fundos da construção. Os desavisados podem se espantar ao perceber que há quase um santuário no local. São várias velas acesas e um pequeno altar com a imagem da escrava Anastácia. É para esse ossuário que muitos fiéis vão ao final das missas. Acendem velas e rezam para a heroína, a escrava Anastácia e os antepassados, que também foram heróis.

Um deles é Manuel Querino. Autodidata que viveu no século XIX, foi competente em todas as profissões que atuou: pintor, decorador, projetista, político, jornalista e escritor. Mas foram as suas pesquisas sobre a cultura negra na Bahia que o imortalizaram. Foi um dos pioneiros da antropologia nacional e cuidou do assunto com muito respeito. Também foi abolicionista. Não é à toa que Querino inspirou um dos mais interessantes personagens do escritor Jorge Amado: Pedro Archanjo, do livro Tenda dos milagres, um funcionário público que ousava escrever sobre os costumes afro-baianos.

Restos mortais

É na Igreja do Rosário que estão os restos mortais de Manuel Querino e de vários heróis, anônimos ou não. Para honrar sua memória, as confrarias negras se esforçavam para fazer bons enterros. Todos os irmãos vivos eram obrigados a comparecer às cerimônias fúnebres com as vestes, velas, tochas e os emblemas da irmandade. As irmandades do Rosário foram ainda mais longe. Criaram uma espécie de serviço fúnebre intermunicipal e até nacional. Contratavam entre elas um enterro decente para os membros que morressem longe de casa.


Fonte: http://sincep.com.br/noticias/imp/168p.asp

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